Por: Stephanie Clifford
Ao fundar a agência de publicidade digital Exopolis, nove anos atrás, Kat Egan não estava preocupada com a obtenção de talentos. Ainda que a internet fosse jovem, sua impressão era a de que profissionais treinados em tecnologia não demorariam a soterrá-la em currículos. Quase uma década mais tarde, ela continua esperando.
"É chocante: mesmo agora, em 2010, continua a ser um desafio encontrar os melhores talentos na área digital", disse Egan. Há bons profissionais, ela diz, "mas você sabe que eles precisarão ser instruídos e supervisionados de perto, e isso é um enorme investimento". "A mídia digital está em ascensão já há 15 anos", disse Egan. "Onde está o esforço educativo para sustentá-la?"
Uma resposta é um novo programa que a Universidade do Colorado em Boulder, da qual Egan é membro do conselho, acaba de criar, o Boulder Digital Works.
A universidade sempre teve um forte programa de graduação em publicidade, e é uma das maiores escolas do ramo, disse David Slayden, diretor executivo do programa. Quando ele começou a pensar sobre um novo programa de criação, porém, ele queria adotar uma abordagem que tivesse por base a tecnologia.
Muitos outros programas de graduação "se baseiam em uma plataforma de criação, inspirada por Bill Bernbach", ele disse, em referência ao fundador da agência DDB, que criou a dupla entre redator e diretor de arte e desenvolveu o sistema sob o qual essas equipes criam pastas de conceitos de criação. "Decidi adotar um processo análogo", disse Slayden.
Ele começou a perguntar às agências o que elas precisavam em seus novos contratados, e companhias como a Exopolis, Crispin Porter & Bogusky e Goodby, Silverstein & Partners apresentaram respostas quase idênticas: "Elas não estavam recebendo do sistema educacional o que precisam para crescer e se desenvolver", disse Slayden, "especialmente em áreas que combinam tecnologia e abordagens de criação".
Ainda que os novos ingressantes na força de trabalho tenham crescido em companhia de computadores, "a grande ilusão é que, porque sabem o que fazer como plateia, também sabem o que fazer no palco", disse Slayden.
Ainda assim, quando os alunos ingressam no programa, a expectativa é de que saibam usar software Adobe e criar um site básico usando ferramentas como HTML, PHP e MySQL. Além de técnicas de criação e tecnologia, o programa também enfatiza o tino empresarial.
A primeira turma do Boulder Digital Works foi iniciada em outubro de 2009. Slayden diz que, inicialmente, ele decidiu que o curso ofereceria um certificado e não um diploma, para evitar a burocracia envolvida na criação de um programa de graduação; mais tarde, porém, o plano é que o programa passe a oferecer um diploma de mestrado.
Estruturalmente, o currículo é mais flexível que nas escolas tradicionais. Alguns cursos duram todo um semestre, como o de design de ambientes móveis e interativos (o que inclui design para o iPad e Android), mas outros são mais curtos - um deles, de liderança para o futuro, só dura uma semana.
"O problema com os programas educacionais tradicionais que tentam ensinar técnicas digitais é que eles vivem fixados ao velho modelo", diz Chris Znerold, 24, aluno do programa e antigo designer interativo na IAC, antes de se matricular. "Uma das coisas que David fez bem foi libertar o currículo. As aulas mudam de acordo com as mudanças do setor e com os interesses específicos dos alunos".
Slayden disse que o Boulder Digital Works já revisou seu currículo quatro vezes, de outubro para cá.
Um "professor líder" se encarrega de cada curso; às vezes é um professor da universidade, e outras um profissional de publicidade como Kip Voytek, vice-presidente sênior de comunicação e planejamento de experiência na agência Rapp Collins Worldwide, ou Jon Kolko, diretor associado de criação na Frog Design. Professores visitantes de agências e empresas de tecnologia também participam. O pessoal do setor que não deseje lecionar, mas deseje fazer, pode assessorar projetos técnicos ou aconselhar os estudantes.
Projetos têm grande peso no currículo, diz Slayden. "Ninguém entra em forma lendo sobre exercício físico".
Em um dos projetos, Slayden pediu que os estudantes criassem uma exposição interativa que seria instalada em uma série de arcos em uma área popular para caminhadas em Boulder. Os alunos apresentaram suas ideias a um grupo de arquitetos e funcionários da prefeitura, e as críticas recebidas foram severas.
Ainda que os alunos tenham conversado com pedestres, não haviam conversado com o arquiteto; suas ideias não estavam bem adaptadas ao espaço, "e eles imaginavam que a exposição seria permanente, o que poderia causar muito tédio". Os alunos não demoraram a revisar suas ideias iniciais.
Um dos projetos mais apreciados, disse Denise Horton, uma das alunas, é o de um curso chamado Startup. Em seis semanas, ela e sua equipe tinham de desenvolver uma ideia para uma empresa de internet, apresentá-la a um profissional de capital para empreendimentos e criar um site. A ideia dela, um site de varejo ecológico chamado OneSeam, tem sua forma básica, no momento, e Horton espera transformá-lo em site de comércio eletrônico em breve.
Horton, 49, era consultora de estratégias de marketing digital para companhias de TV a cabo antes de se matricular, mas disse que aprender tecnologias novas em meio ao trabalho é difícil. "Isso é prático, um curso que requer arregaçar as mangas e sujar as mãos, aprendendo a criar o código de um site, usar plataformas de tecnologia, o sistema operacional Android, o impacto do iPad", ela disse, sobre o programa em Boulder.
"A plataforma digital é onipresente", disse. "É uma parte da maneira pela qual todos estão pensando, se comunicando e compartilhando, se conectando, comprando e fazendo negócios. Trata-se do setor mais dinâmico em que uma pessoa pode trabalhar, no momento".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
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Há 14 anos
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